Pense em um pomar. Para que ele se torne um, começamos pelas sementes que serão plantadas. Cada uma delas guarda o seu próprio potencial, o que lhes dá a possibilidade de crescerem e se desenvolverem (ou não).
Nem todas as sementes se tornarão uma macieira linda e frutífera, porém todas terão a mesma possibilidade por estarem sendo cuidadas e cultivadas da mesma forma e nas mesmas condições.
Não dá para garantir que esses frutos florescerão, como disse anteriormente, pois, nessa caminhada, existirão limitações, desafios, barreiras, novos aprendizados e diferentes necessidades dando a cada macieira, a cada fruto a autonomia de florescer ou não. Uma das coisas que fará toda diferença para que o florescimento aconteça é o potencial de cada uma das sementes e como esse potencial será empregado.
Esse movimento de evolução das macieiras tem total semelhança com o processo de evolução e amadurecimento da espécie humana, é claro, considerando suas devidas complexidades. Começamos por sermos um microscópico embriãozinho, passamos pela infância, pela vida adulta, até chegarmos na velhice e finalizarmos nossos dias aqui nesta jornada.
Na jornada humana, também poderemos florescer ou não, pois nós teremos diversos desafios, mudanças, dificuldades que nos atrapalharão, por isso é importante consideramos os nossos potenciais e como estamos utilizando eles.
O ser humano tem uma capacidade que é única de sua espécie, a reflexão, e que é fundamental para nosso florescimento. Ela nos dá a capacidade para raciocinarmos e refletirmos sobre as coisas e sobre nós mesmos.
(Somos os únicos seres vivos capazes de refletir).
Nesse texto, quero falar sobre esse tema tão recorrente no meu trabalho.
Como desenvolver autoconhecimento?
O autoconhecimento só é possível pela nossa capacidade de refletirmos sobre nós mesmo e estarmos abertos a esse olhar para quem de fato somos, seres imperfeitos, que ganham e perdem, que tem pontos fortes e limitações, que são feitos de carne e osso.
Eu costumo usar uma frase, de minha autoria, com meus clientes: “o autoconhecimento é um caminho sem volta. Não tem como voltarmos ao que éramos depois de entrarmos nessa jornada da existência humana.”
E sabe por que? Porque depois de começarmos a trazer para a consciência quem nós somos e a vivenciarmos as mudanças comportamentais, relacionais e mentais, alterando padrões de pensamentos, desconstruindo crenças, nos alicerçando em nossos pontos fortes e acolhendo nossas principais limitações, nos reconhecemos mais humanos por isso mais autênticos e isso eu posso afirmar para vcs, é libertador.
A gente só muda aquilo que a gente conhece, então se eu quero mudar o padrão que eu funciono, eu preciso partir do princípio que eu preciso saber como estou funcionando me autoconhecendo.
De fato, o autoconhecimento é fundamental para a evolução e o florescimento do ser humano.
Como o autoconhecimento surgiu?
Na Grécia Antiga. Os gregos a mais de 2500 anos, foram os primeiros a terem essa intuição extraordinária, a de nos tornarmos o que já somos.
A palavra autoconhecimento é muito antiga e vem lá da filosofia. O oriente já praticava muito o autoconhecimento através das pessoas que meditavam. O conceito continuou sendo muito trabalhado com Sócrates no ocidente, que elegeu a ideia do autoconhecimento como a grande busca da filosofia.
Na Grécia antiga as crianças tinham em sua grade escolar matérias relacionadas ao autoconhecimento, o que era na época, mais valorizado do que o estudo das ciências matemáticas, por exemplo.
Friedrich Nietzsche, filósofo alemão, nos traz uma valiosa e complexa reflexão:
Torna-te quem tu és!
Nós só conseguiremos ser quem realmente somos a partir do momento que conseguimos refletir, identificar e se apropriar de nossas forças, nossas limitações, ou seja, de nosso lado luz e sombra, como colocou Carl Jung em sua teoria.
Como entendemos relação com o autoconhecimento hoje?
Alguns de nós já entendeu que o autoconhecimento é uma ferramenta muito poderosa para mudar padrões cerebrais, porém essa visão não pode ser generalizada, pois o desconhecimento, a resistência e a ignorância em relação a essa temática ainda existem em boa parte de nossa população.
Percebo que com a pandemia do coronavírus e o adoecimento psíquico de boa parte da população gerado pela privação social e pela liberdade humana de ir e vir, medo constante da morta, incertezas e inseguranças sobre o próximo minuto trouxeram a tona discussões até então muitas vezes veladas sobre transtornos de ansiedade, depressão, burnout, entre outras doenças psíquicas, o que também levou muitas pessoas a buscarem o seu autoconhecimento para uma maior qualidade de vida emocional.
Estamos ligados no 220V, somos uma geração frenética em busca de mais e mais, e isso nos deixa ligados no piloto automático, muitas vezes nos afastando do nosso olhar interior, ou seja, do nosso autoconhecimento.
Estarmos ligados no piloto automático muitas vezes nos afasta de olharmos e percebermos o presente de fato, colocando atenção no que estamos fazendo e vivendo, o que gera falta de percepção das nossas emoções, de nossos pensamentos, de vivermos a felicidade, a alegria, a tristeza, a frustração de forma consciente, nos desconectando de quem somos.
Arrisco dizer que nos tornamos especialistas em olhar para fora e pequenos aprendizes em olhar para dentro de nós.
Olharmos para dentro no momento do autoconhecer-se é fundamental para uma vida saudável psíquica, emocional, física e espiritual, o que nos levará ao nosso florescimento enquanto espécie humana.
Você já ouviu falar sobre florescimento humano?
Martin Seligman nos presenteou com o conceito de florescimento humano através de seus estudos da Psicologia Positiva, um movimento científico que olha o ser humano em sua “melhor versão” como eu diria, considerando suas forças de caráter, as emoções positivas e aquilo que ele tem de melhor para oferecer ao mundo.
Seligman coloca em sua teoria do bem-estar, a qual denominou de PERMA, que o florescimento é um processo, ou seja, não acontece do dia para a noite e que nós devemos vivencia-lo para florescermos, ou seja, para florescer você precisa: P – vivenciar e nos nutrirmos de emoções positivas, E – viver uma vida engajada, R – cultivar relacionamentos positivos, M – vivenciar uma vida com significado e A – realizações.
(Apenas para entendimento do significado do PERMA – P – positive emotions / E – engajement / R – Positive Relationship / M – Meaning / A – Accomplishment
Percebo em minha experiência como psicóloga e coach que um número expressivo de pessoas que me procura não está vivenciando o PERMA, o que as coloca em algum tipo de dificuldade ou sofrimento psíquico, associado a falta de um conhecer-se mais profundo e consistente.
Florescimento humano e Psicologia Positiva
A Psicologia Positiva propõe também olharmos para nossas forças de caráter para florescermos, pois para eles ninguém florescerá olhando somente para suas limitações, pontos fracos e dificuldades, mas sim tendo consciência deles para que possam ser trabalhados junto a percepção e utilização o que temos de melhor através de nossas forças de caráter.
Precisamos lembrar que todos nós temos potenciais que estão associados as nossas forças de caráter, segundo a Psicologia positiva, e sabermos quais são ele e como podemos utilizá-los, é um presente ao florescimento humano.
Segundo Martin Seligman e Christopher Peterson, as forças de caráter são forças que todos os indivíduos possuem. São características psicológicas que resultam em comportamentos. Elas dizem respeito à nossa parte saudável.
Eu diria que elas são os nossos super-poderes.
Ao todo, foram identificadas 24 forças de caráter e cada indivíduo tem essas características em potencialidades diferentes, o que torna todo ser humano um ser único.
Para saber quais são as suas Forças de Caráter, usamos o relatório VIA, que é o assessment utilizado pela Psicologia Positiva. Esse relatório vai mostrar as Forças de Caráter em graus diferentes. Contudo, as cinco primeiras forças são as que nós estamos utilizando em maior relevância e são as chamadas de Forças de Assinatura.
Conclusão
Finalizo minha contribuição aqui deixando claro ao leitor que é possível vivermos uma vida nos autoconhecendo e realizando mudanças positivas com foco em nosso florescimento, nos comportando de maneira congruente com nossas forças de caráter, valores, crenças e com quem somos de verdade, pois ainda que jamais os conheçamos totalmente, eles estão em nós e a todo momento são responsáveis por nossas escolhas e pela imaginam que construímos sobre nós diante do outro, do contexto e de nós mesmos.
Forte abraço e até o próximo post.
Cris