Saúde EmocionalSaúde emocional nas organizações: como superar esse desafio?

julho 26, 2023por Cristiane2

“Não existe equilíbrio vida-trabalho. Existe vida. Trabalho é só uma parte dela.”      

Dra. Ella Washington

É fato que as empresas precisam olhar para a saúde emocional e mental dos colaboradores. Até porque é cada vez mais comum os casos relacionados à depressão, ansiedade, ao burnout, entre outros, afetando os funcionários e a sua produtividade.

Um estudo realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) revelou em pesquisa que a saúde mental no trabalho afeta diretamente desempenho dos colaboradores, seja negativa ou positivamente.

O absenteísmo, presenteísmo e o turnover também são afetados pelas doenças mentais.

A depressão, os transtornos de ansiedade e o burnout são doenças que afetam diretamente a capacidade de concentração do indivíduo, tendo reflexo negativo na entrega das tarefas e conclusão das atividades.

Adriano Hyeda e Zuher Handar confirmam isso em relação ao burnout em seu artigo científico “Avaliação da produtividade na síndrome de burnout”.

Por esse motivo, neste artigo, quero trazer aqui a questão da saúde emocional dentro das empresas e como as organizações podem ajudar a fomentá-la. Boa leitura!

Saúde emocional e mental: como está o cenário hoje?

A OMS estima que cerca de 30% dos trabalhadores tenham transtornos mentais e estão entre as principais causas de perdas de dias de trabalho no mundo e que transtornos depressivos e de ansiedade custam US$ 1 trilhão à economia global a cada ano em perda de produtividade. Até 2030 estima-se um aumento para 6 trilhões de dólares.

Diante desses dados não podemos ignorar o fato de que a empresa exerce responsabilidade sob o impacto da saúde mental de seus colaboradores e isso deve ser visto no todo, como um efeito cascata, ou seja, desde os donos, diretores, acionistas até o operador que atua no chão de fábrica.

Esse desafio estende-se às lideranças, pois elas exercem influência direta em seus colaboradores. É que o vamos falar nos próximos tópicos.

O papel da liderança tóxica na saúde emocional e seus colaboradores

A ansiedade cresce mostrando o que realmente é: a manifestação crônica da insegurança da liderança.” Alberto Nobis, CE da DHL Express.

Alberto Nobis trouxe essa reflexão no World Happiness Summit que aconteceu em abril de 2023 em Como, Itália, o que gerou um incômodo por parte de algumas lideranças, uma validação por parte de outras e com certeza boas reflexões por parte de empresas sérias que querem crescer e entendem que seu maior patrimônio são as pessoas.

Com o capitalismo acelerado e a competividade ganhando cada vez mais espaço no meio corporativo, vemos um movimento preocupante do lucro a todo custo permeando muitas organizações, movimento esse que deixa como segundo plano o colaborador e em primeiro o resultado financeiro.

Dentro desse cenário temos perfis de líderes tóxicos, buscando seus resultados através da cobrança exagerada por números, falta de entendimento do outro e de sua realidade singular, não valorização de suas potencialidades e da construção de um ambiente psicologicamente seguro.

Esse contexto pode trazer bons números para a empresa, porém pode trazer também diversas dificuldades relacionadas à saúde mental e relacional das pessoas. Muitas pessoas têm adoecido atualmente devido a esse modelo de gestão tóxico adotado por seus líderes e organizações. 

Colaboradores apresentando transtornos de ansiedade que vão desde um frio na barriga por terem que fazer uma apresentação a diretoria, até uma crise de pânico que os paralisa e os impede de realizarem uma tarefa são reações possíveis fruto desse tipo de gestão.

Outros apresentando quadros depressivos, passando longe de vivenciarem o estado de flow que os leva a realização de uma determinada tarefa de forma satisfatória com uma entrega de valor. 

E também existirão aqueles que terão Burnout, a mais moderna doença do trabalho, que é uma síndrome gerada em decorrência da carga excessiva de trabalho, falta de descanso e pressão constante.

Liderança positiva: um ponto-chave para a saúde emocional

Para Gilberto Guimarães (2012), a liderança é essencial e os líderes fazem a diferença. A qualidade da liderança determina a história e o sucesso de uma organização, permitindo que esta atenda às expectativas de investidores, clientes e empregadores. 

A liderança positiva tem sido considerada como o novo modelo e forma de implementar liderança. Esses conceitos derivam do desenvolvimento da psicologia positiva, segundo estudos realizados por Martin Seligman e também de uma vasta análise de pessoas que trabalham em empresas com excelentes resultados.

Liderança positiva: o modelo de Kim Cameron

Kim Cameron, a maior deferência na temática liderança positiva, a define como sendo composta por “práticas positivas em organizações que produzem mudanças desejáveis ​​na eficácia organizacional”.

O modelo proposto por Cameron, prescreve quatro estratégias de atuação para o líder positivo. São elas:

Cultivar clima positivo

Cultivar um clima positivo tem como foco a promoção de compaixão, perdão e gratidão na relação líder e liderado e entre os membros da equipe.

Desenvolver relacionamentos positivos

Desenvolver relacionamentos positivos está relacionado a construir redes de energia positiva e reforçar as forças de caráter de cada membro.

Ter uma comunicação positiva

Ter uma comunicação positiva é utilizar-se de uma comunicação de apoio e obter feedbacks positivos.

Criar significados positivos.

Criar significados positivos tem efeito direto no bem-estar, conecta-se a valores pessoais e amplia o impacto dos resultados, pois isso facilita a associação do trabalho com significados positivos.

Atuar como líder positivo e construir uma cultura de equipe positiva é minimizar os sintomas e doenças mentais, afinal esses colaborados estão inseridos em um ambiente positivo em que se acredita no individuo como chave do sucesso. Líderes positivos perdoam erros e mostram que é possível aprender com eles, pois sabem que o medo atrofia a criatividade e o espírito inovador, além de que, quando em excesso, geram inseguranças e transtornos de ansiedades. Eles também reconhecem e agradecem quando a equipe tem um desempenho excepcional.

Quais são as características de um líder positivo?

Líderes positivos são otimistas e inspiram mais confiança, afinal seus liderados querem ter alguém que traga soluções para os problemas e motive diante dos desafios e dificuldades. Alguém que fique reclamando dos problemas, não gere ações para resolvê-los e não encoraje o time, não terá sucesso em sua gestão positiva.

Outra característica do líder positivo é o otimismo. Algumas pesquisas sobre otimismo e saúde nos mostram a importância e nos comportarmos dessa forma para o cultivo da nossa saúde mental.

De acordo com um estudo conduzido por Segerstrom S (2010) na Universidade de Kentucky, pessoas otimistas em relação à saúde em geral respondem melhor a tratamentos médicos, pois expectativas positivas quanto ao futuro podem fortalecer o sistema imunológico. O Instituto Delfland de Saúde Mental, da Holanda, realizou uma pesquisa com 545 homens e constatou que a probabilidade dos mais otimistas morrerem de doenças cardiovasculares cai pela metade.

Conclusão

Em suma, líderes que sabem criar um clima positivo, cultivam relacionamentos e comunicação positiva, conseguem reverter o pessimismo de seus liderados/equipe, pois aprendem a ser otimistas e angariar mais resultados através de uma gestão baseada no significado e no cultivo do bem-estar.

Com carinho, um forte abraço,

Cris

2 comentários

  • MONICA APARECIDA FRIZZO

    julho 27, 2023 at 08:00

    Excelente texto para reflexão dos temas a que se muito tem falado atualmente de liderança humanizada, empresa consciente,
    O importante é não ficar somente no discurso, mas sim realizar ações com intenção verdadeira de cuidar das nossas “pessoas”.
    Os reflexos de uma gama de trabalhadores adoecidos, vai além de valores de faturamento para as empresa, extrapolam a linha comercial do negócio, chega até as famílias e a sociedade como um todo.
    Tenho tentado fazer a diferença, pelo menos com a minha equipe, não pensando somente nela mas também em mim. Trabalhando de forma respeitosa, entendendo as diferenças, tendo escuta ativa e respeitando as opiniões. Quando digo que penso em mim, é por que somente assim, posso estar bem e aberta para entender o outro.

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    • Cristiane

      janeiro 22, 2024 at 21:10

      Olá Monica,
      Obrigada pelo seu comentário e feedback.
      Concordo com você, as empresas precisam promover ações humanizadas para que essa cultura seja instituida e todos possam usufruir dela.
      Eu acredito muito em uma gestão humanizada mais compreensiva e acolhedora, porém também naquela que coloca limites, diz “não” quando necessário e direciona os funcionários.
      Um abraço,
      Cris

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